Fala Cabotino

domingo, 10 de outubro de 2010

O Sopro

Despejo-te livre por entre a bruma
Que ao entardecer escarra minh'alma
Minhas dores e me deixa a carne crua

Desmancho-te livre em meio a um sopro
Em meio ao vento e ao desalento
Dedico a ti a canção que ouvirás com outro

Invado os armários das minhas criadas entranhas
E retiro-me das garras das minhas reminiscências
Sem temer que qualquer outra força estranha
Suplique, incessantemente, por permanencia

sexta-feira, 30 de julho de 2010

O Querer

Eu quero um amor de bossa
Eu quero pássaros dançando
Eu quero construir uma rima nova

Eu quero viver amando
Sob a sombra da palhoça
Eu quero morrer cantando

Eu quero amar aos sete tons
Quero peixes longe d'anzois
Quero tecer rubros amores de batons

Eu quero renascer no mar
Pintar novos peixes, novas ondas
Quero, o que não posso, reinventar

Eu quero me realfabetizar
Quero andar com as formigas
E com elas, me familiarizar

Quero reaprender com os bichos
Aquilo que o homem me tirou
Ao devastar meu nicho de amor

Eu não quero o que está além
O que eu quero, meu sinhô
É ser alguém
Alguém de amor

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Décimo Andar

O amor me pegou e levou-me a paz
Tomou minh'alma e me deixou para trás
Tornou-me santo. Calou-me o canto
E sem se preocupar, me abafou o pranto

O meu amor não chega aos céus
O meu amor, não posso cantar
Meu coração de imenso fel
Só quer espaço para repousar

O amor me pegou e levou-me mais
Tirou-me o doce e me deixou incapaz
Tampou-me mudo. Calou-me surdo
E me fez engolir mil absurdos

O meu amor caiu do décimo andar
Sem aviso. Sem alarde. Não quis me acordar
Diferente dele, meu corpo vai estar
Ainda há grande mar pr'eu conquistar

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Cansei ou capítulo II

Cansei da música
Cansei do sorriso
Cansei da moça
Cansei da arte

Cansei da musa
Cansei do riso
Cansei da doce
Moça do encarte

Cansei do céu
Cansei do pão
Cansei da paz
Cansei da espera

Cansei do véu
Cansei do não
Cansei do rapaz
E cansei dela

Cansei das coisas
Cansei da prosa
Cansei do choro
Cansei do medo

Cansei das roxas
Que me apavoram
Cansei do todo
Que me é azedo


segunda-feira, 19 de abril de 2010

Não caibo ou capítulo I

Não caibo nesse verso
Não caibo na conversa
Não caibo no universo
Não cabio nessa festa

Não caibo na tv
Não caibo nos livros
Não caibo no dever
Tão pouco nos vivos

Não caibo nas roupas
Sou fora de moda
Não caibo na voz rouca
Foi o que disse a senhora

Não caibo na espera
Não caibo nos comerciais
Não caibo nessa esfera
De coisas mortas e banais

Não caibo no retrato
Não caibo no filho
Não durmo no prato
Não como no frio

Não sou peixe de anzol
Sou menino da rua
Enquanto cabem no sol
Eu caibo na lua

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O amor é a nossa resistência



Em um jantar, há dois mil e quinhentos anos, um sábio grego chamado Sócrates, refletia sobre a essência do amor. Mas o que ele não sabia, é que mesmo depois de tanto tempo, as gerações futuras ainda teriam os mesmos questionamentos - sem respostas palpáveis - sobre o assunto.

Que sentimento é esse capaz de sensações tão paradoxais dentro de nós? Que sentimento é esse que nos acompanha ao longo de toda nossa existência, sem que saibamos algo além de seu simples codinome "amor"? Se o pudéssemos sentir, tocá-lo ou vê-lo, o que ele vestiria? Teria gosto de quê? Qual seria sua expressão?

Em meio à tantas questões, resta-nos apenas uma resposta: a certeza de que não há como responder à estas perguntas. Em uma analogia desconcertada de uma expressão popular, seria como achar uma agulha quebrada no campo das idéias.

Um dos motivos principais que nos levam a ter dificuldade na compreensão da essência do amor é, justamente, a incerteza quanto à sua existência.
Será que o mesmo sentimento - que entendo como amor -, dentro de mim, aje e se manifesta de forma análoga em outra pessoa? Indo além, será que o amor de fato existe, ou a mente humana assim o criou, a fim de preencher o abismo essencial dentro de cada indivíduo?

Foram todas estas interrogações que Platão dedicou-se a estudar. O tema amor era um ponto fucral em seus pensamentos filosóficos, fazendo sempre uma ponte entre o campo das idéias e o plano material, onde estamos fincados. Chegando a propor em "O Banquete" uma saída para que consigamos penetrar o mundo das idéias; "Chegaremos a esta contemplação através da ascese erótica, pois a alma, quando quer que se deixe levar pelo amor, vislumbra a própria divindade".

Outra certeza que nós - uma vez que pertencentes do mesmo planeta - temos, é que, propositalmente ou não, o amor serve como suplemento para que enfrentemos o mundo e toda sua complexidade.
Desafio alguém a viver sem o amor. Aos que tentarem, estarão fadados à solidão e à tristeza.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Canto ao amor, ao sorriso e à flor

Canto para lembrar de um amor
Para esquecer uma dor
Para me recompor e te recompor
Para esquecer os problemas ou o que for

É cantando que encontro o sentido
Que me faz continuar remando
É cantando, que tenho a certeza
De que devo continuar sonhando

Canto pois assim sou feliz
Canto aos risos e às lágrimas
De um mundo em que sou
Um eterno aprendiz

Canto para me queixar, para me reinventar
Mesmo que de canto, eu canto
Pois só cantando não deixarei de amar
Nem de sonhar